EUA E CUBA
FUMAM O CHARUTO DA PAZ
Frei
Betto
Hoje, amanhã e terça-feira, o presidente
Barak Obama visita Cuba. Em fevereiro último, quando estive com Fidel, ele
indagou reflexivo: “O que deseja Obama?” No ano anterior, o líder cubano me
dissera que Obama mudara “de métodos, mas não de objetivos.” Agora arrisquei
um palpite: retocar sua foto biográfica, já que deu continuidade ao
belicismo usamericano no Oriente Médio e, internamente, é acusado de ter
sido omisso em relação à América Latina.
Faz 88 anos que um presidente dos
EUA pisou em solo cubano: Calvin Coolidge, em 1928. As relações entre os
dois países sempre foram tensas. Em fins do século XVIII, John Adams,
segundo presidente dos EUA, declarou que Cuba deveria ser incorporada a seu
país... No século seguinte, o México perdeu metade de seu território para o
vizinho do Norte: Texas, Arizona, Novo México e Califórnia.
Com o afundamento de um navio estadunidense no porto de Havana, atribuído pela imprensa dos EUA a uma mina
espanhola, o país se envolveu na luta dos cubanos para se libertarem da
Espanha, em 1898. Expulsos os europeus, entraram os estadunidenses e
transformaram a ilha em uma neocolônia selada pela Emenda Platt. Inseriu-se
na Constituição de Cuba uma emenda pela qual os EUA ficavam autorizados a
intervir em Cuba a qualquer momento. Em 1903, a marinha estadunidense
“alugou”, por prazo indeterminado, a base naval de Guantánamo por US$ 4.085
anuais.
A Revolução Cubana, vitoriosa em
1959, não se fez contra os EUA. Fidel foi aclamado nas avenidas de Nova
York. No entanto, ao nacionalizar empresas made in USA, o governo
Kennedy tentou esmagar a Revolução com a invasão mercenária da Baía dos
Porcos, em 1961, sem lograr êxito (antes de assinar o decreto da invasão,
Kennedy cuidou de comprar todos os charutos cubanos disponíveis em
Washington). O resultado foi empurrar Cuba para os braços da União
Soviética.
Vieram, então, a ruptura de
relações diplomáticas, o bloqueio à ilha e as leis que, ainda hoje, concedem
cidadania estadunidense a todo cubano que pisar em solo
estadunidense.
Até que Francisco, o pontífice (=
aquele que constrói pontes), em agosto de 2014 propôs a Obama e Raúl Castro
restabelecerem relações diplomáticas, o que se anunciou em 17 de dezembro
daquele ano e se efetivou em 1º de julho de 2015.
Passeio por Havana
Obama ficará apenas dois dias na
ilha. Os cubanos se sentem lisonjeados por Obama ter pedido para ser
recebido em Havana antes que Raúl manifestasse a intenção de ir a
Washington.
Além das conversações entre os
dois presidentes, com certeza Obama e Michelle serão recebidos por Fidel e o
aperto de mãos que haverão de trocar selará a amizade entre os dois países e
sufocará o pescoço daqueles que, em Miami, montaram uma lucrativa indústria
anti-castrista.
É provável que Obama assista ao
balé cubano, percorra as ruas coloniais de Havana Velha e prove a saborosa
culinária do país em um paladar. E, como de praxe, seja recebido pelo
cardeal Jaime Ortega, que garante que, em Cuba, já não há presos
políticos.
Depois dessa visita, será difícil
o Congresso dos EUA manter o bloqueio por longo tempo. Até porque
business is business, e Cuba, com a ajuda do Brasil, constrói em
Mariel o maior e mais moderno porto do Caribe.
Frei Betto é escritor, autor do romance “Hotel Brasil” (Rocco),
entre outros livros.
VENCEMOS !!! VENCEREMOS !!!
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