Aleida Guevara March responde à carta enviada por prisioneiros palestinos: "Enquanto respirarmos, ninguém poderá nos derrotar. Até a vitória sempre!"
Aleida Guevara March, filha do Comandante Ernesto “Che” Guevara, enviou ao Al Mayadeen Español, uma carta dirigida a prisioneiros palestinos em prisões sionistas: Aahed Ghulma, Thabet Mardawi, Saad al Tubasi, Anas Jradat, Muhammad Mardawi, Wael al Jaghoub e muitos outros .
Há poucos dias, a filha do combatente revolucionário recebeu uma comunicação postal dos prisioneiros palestinos, na qual a agradeciam por apoiar a causa do povo palestino, enquanto destacavam que se Che estivesse vivo, "suas ações teriam sido ainda mais radicais e cristalizadas, suas posturas mais vanguardistas e sua criatividade ainda mais articulada e brilhante. ”
A carta, de 2019, demorou até setembro de 2021 para chegar ao seu destinatário, devido a restrições e medidas de segurança israelenses.
Excerto da carta dos palestinos presos:
Nossa muito querida senhora Aleida filha de Che Guevara, se
o destino tivesse permitido seu grande pai, o camarada combatente Che Guevara,
estar entre nós hoje e se os ponteiros do relógio voltassem, e ele tivesse
visto o que vemos hoje , desta louca voracidade americana, baseada na
mentalidade do “cowboy” que este desavergonhado Trump lidera, e por instigação
desses mercenários sionistas liderados pelo criminoso desequilibrado Netanyahu,
suas ações teriam sido ainda mais radicais e cristalizadas, suas posições mais vanguardistas
e sua criatividade ainda mais articulada e brilhante, da mesma forma, sua
disposição para a resistência teria sido ainda mais pronunciada e severa,
percebendo que o mundo hoje está sob um domínio maior do sionismo e da
hegemonia americana; e quando se percebe que muito menos de 1% das pessoas
possui e controla 99% dos recursos, dinheiro e riqueza do mundo e estes estão
concentrados na metade norte do mundo e eles deleitam e desfrutam do sofrimento
e da miséria do resto do humanidade.
(...)
Querida Aleida, nós, em nosso confinamento nestas
abomináveis prisões sionistas, valorizamos muito e apreciamos sua presença
conosco em nossas difíceis circunstâncias e chamamos através de você para que
as pessoas livres do mundo se unam em apoiar nossa justa causa, para que nosso
grito seja ouvido em todos os cantos do mundo e para que a nossa situação e a
opressão a que estamos sujeitos sejam conhecidas em todas os lares do mundo;
Não perdemos a esperança de sair dessas prisões para completarmos juntos, de
mãos dadas, o caminho da vitória, defendendo todos os oprimidos do planeta.
A carta completa : https://bitlybr.com/4pKBrVnt
A seguir, Al Mayadeen Español, reproduz na íntegra a carta enviada por Aleida Guevara March.
Havana, setembro de 2021
Queridos irmãos:
Há poucos dias recebi sua carta, é uma pena que a distância seja tão grande fisicamente e que a ocupação israelense me impeça de me aproximar.
Nunca me interessei em visitar o lugar que eles chamam de Israel, mas agora ficaria feliz se me permitissem visitá-los.
Vocês sabem melhor do que muitos como funciona este mundo e como ele é injusto, mas também são um grande exemplo de resistência e coragem e me sinto muito orgulhosa de poder chamá-los de irmãos.
Temos muitas coisas a aprender e a resolver, mas acredito que o mais importante agora é a união entre vocês, que é a única coisa que lhes permitirá ter forças para continuar a resistência e poder enxergar em um futuro não muito distante uma realidade muito diferente para a pátria indignada, para a bela Palestina. Camaradas da unidade, aquela palavrinha já contém em si muita força, ora não importa de onde somos, nem a que partido pertencemos, agora importa a liberdade, independência e soberania de nossa terra e só unidos a conseguiremos.
É importante buscar os objetivos comuns da luta, o que vem primeiro, o mais urgente, identifiquem esses objetivos e a marcha ficará menos difícil.
Eu gostaria muito de poder escrever para vocês em sua própria língua, mas tenho pouca habilidade para aprender línguas, sinto muito, mas tenho minha amiga e irmã Wafy, ela fará a tradução para vocês e tenho certeza que ela será o mais fiel possível.
O que dizer que vocês ainda não saibam, com certeza muito pouco, por isso vou contar algo sobre minha vida e talvez você possa aprender mais sobre minha cultura.
Como sabem, sou cubana, de pai argentino, mas educado e formado na minha Ilha, a da liberdade e da soberania, onde desde criança te ensinam que o amor à pátria não é o amor à terra ou à grama que nossos pés pisam, mas o eterno ressentimento de quem a ataca, o ódio invencível de quem tenta prejudicá-la. Mas também nos ensinam que pátria é humanidade, e é por isso que estamos felizes em ajudar outras pessoas em qualquer lugar do mundo, é uma honra ser médicos internacionalistas, então, quando eu estava prestes a iniciar o último ano de minha carreira médica, pedi para concluir o período ajudando o povo da Nicarágua, que acabava de se tornar independente do jugo imperialista; passei um ano inteiro lá e me formei em medicina e também cresci como ser humano.
Um ano depois, depois de trabalhar em um dos municípios mais orientais de meu país, Moa, voltei a Havana, onde moro. Algum tempo depois, precisaram dos meus modestos conhecimentos em Angola e para lá parti por dois anos, talvez os mais longos da minha vida. Não consigo descrever com justiça tudo o que vivi naquela linda terra devastada pela colonização e pelo racismo, chorei milhares de vezes pelas crianças, que morreram por causa da guerra e da falta de recursos antes mesmo de chegar até nós. Ver a fome, a desnutrição e a pobreza sofrida por um povo de um dos países mais ricos deste planeta, me marcou com dor para o resto da vida, mas novamente cresci e comecei a repudiar com todas as minhas forças tudo o que se referia à escravidão, colonização e racismo.
Voltei para a minha ilha, casei-me e tive duas filhas, a mais velha é hoje economista e a mais nova é cirurgiã vascular, comecei a trabalhar no Instituto da Amizade com os Povos e, pela solidariedade de muitos povos com Cuba, cheguei com a mensagem da minha ilha e um pouco do meu pai para meio mundo. Continuo trabalhando como médica, mas cada dia é menos porque também trabalho no Centro de Estudos Che Guevara. Colaboro com a Fundação Un Mundo Mejor es Posible da Argentina, o que me permitiu conhecer um pouco melhor a cidade onde meu pai nasceu, sou membro do Movimento sem Terra no Brasil, movimento que respeito pela sua coerência e seu trabalho diário com os mais humildes e necessitados.
Já estou com 60 anos e quando olho para trás percebo o quanto tenho que continuar fazendo todos os dias.
Dói muito não poder estar mais perto de vocês, mas quebro a distância e os abraço com todas as minhas forças. Sei que alguns por causa de sua cultura e religião não poderiam ser abraçados por mim, mas como estamos à distância e somos irmãos, mando-lhes um beijo bem apertado. Avancem companheiros, fiquem unidos e firmes e chegaremos à Vitória.
Não poderia me despedir sem antes pedir a minha irmã Wafy que tentasse traduzir esses versos tirados de um poeta espanhol, Miguel Hernández, que morreu na prisão onde chegou por lutar em busca da liberdade de seu povo, mas apesar de tudo o que sofreu, ele nunca deixou de sentir liberdade e a capturou em seus versos.
“Para la libertad sangro, lucho, pervivo.
Para la libertad, mis ojos y mis manos,
como un árbol carnal, generoso y cautivo,
doy a los cirujanos…”
“Para la libertad me desprendo a balazos
de los que han revolcado su estatua por el lodo.
Y me desprendo a golpes de mis pies, de mis brazos,
de mi casa, de todo.
Porque donde unas cuencas vacías amanezcan,
ella pondrá dos piedras de futura mirada
y hará que nuevos brazos y nuevas piernas crezcan
en la carne talada.
Isso mesmo irmãos, enquanto respirarmos, ninguém será capaz de nos derrotar.
Até à vitória, sempre!
Com todo meu amor e respeito,
Aleida Guevara March
https://espanol.almayadeen.net/news/politics/1519667/aleida-guevara-march-responde-misiva-de-prisioneros-palestin
Tradução: Carmen Diniz
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