15 de out. de 2022

DE GUAIDÓ A ZELENSKY, OU DE COMO O IMPERIALISMO NÃO APRENDE NEM MESMO COM AS DERROTAS.

                                                                            

 Editorial de Izquierda Castellana publicado el 14-10-2022 

Em 31 de janeiro de 2019, o Parlamento Europeu reconheceu Juan Guaidó como o legítimo presidente da Venezuela por uma ampla maioria, com 439 votos a favor, de um total de 705 assentos. Anteriormente, em 24 de janeiro, os EUA, liderados por Donald Trump, já haviam realizado a mesma operação. Em 4 de fevereiro de 2019, o Parlamento espanhol também reconheceu Guaidó como o legítimo presidente da Venezuela por uma ampla maioria. Tudo o que restava era o povo venezuelano mostrar sua concordância com as decisões dos parlamentos das "democracias ocidentais". É claro, isso nunca aconteceu.

Todo este processo internacional, orquestrado pelos EUA, foi acompanhado por uma campanha dentro da Venezuela com sabotagens e algumas revoltas de setores minoritários do exército e da sociedade civil, que culminaram na operação fracassada de 30 de abril de 2019, com o principal centro na base aérea de La Carlota, em Caracas. Foi a chamada "Operação Liberdade", assim chamada por Juan Guaidó.

Anteriormente, em 23 de fevereiro de 2019, foi lançada uma campanha de intoxicação da mídia, que teve como ponto de partida a recusa do governo venezuelano em receber a "ajuda humanitária" que se pretendia transferir da Colômbia através da Ponte Internacional de Cúcuta. É muito interessante recordar a intervenção de Pedro Sánchez em 4 de fevereiro de 2019, quando o Parlamento espanhol decidiu reconhecer o Guaidó como presidente legítimo.

As campanhas de intoxicação e criminalização da mídia contra a Venezuela foram bestiais, e não inferiores em seu nível de manipulação aos atuais sobre a guerra na Ucrânia.

De acordo com a mídia ocidental de manipulação, Maduro estava cada dia em uma posição mais fraca e o exército se dividia em seu apoio ao chefe de Estado, enquanto Guaidó ganhava constantemente apoio social e institucional. Afinal, não era tudo como a tal  história "contava" . Maduro ainda é o presidente da Venezuela, e agora aqueles que até dias atrás não reconheciam sua legitimidade têm que negociar com ele.

Hoje podemos ver como mentiras semelhantes e intoxicação da mídia estão sendo repetidas em relação à guerra na Ucrânia: que a oposição a Putin está crescendo na Rússia; que o exército russo está perdendo a guerra de forma retumbante e clamorosa; que a Europa e o mundo em geral estão se tornando cada vez mais unidos contra a Rússia e a favor de Biden/Zelensky. Basta olhar para a recente decisão da OPEP (que virou as costas aos EUA ao decidir cortar a produção de petróleo em dois milhões de barris por dia a partir de novembro) para ver a falsidade dessas avaliações, que confundem o pensamento ilusório com a realidade.

A questão é por que os EUA estão apoiando a continuação e extensão da guerra na Ucrânia em vez de adotar uma política favorável às negociações que conduziria pelo menos a uma trégua que traria um fim ao confronto armado. Guerras significam morte e destruição para as classes trabalhadoras. No caso da guerra na Ucrânia, este sofrimento recai especialmente sobre o povo trabalhador daquele país, e também sobre o povo russo. Mas a guerra também é um grande negócio para o capitalismo, ou pelo menos para alguns países capitalistas, e é aí que estamos.

O capitalismo anglo-americano, hegemônico no campo imperialista, está em uma crise estrutural muito profunda da qual não é capaz de se livrar por meios comuns. Seu grande concorrente estratégico, a República Popular da China, está avançando apesar da gravidade dos problemas que enfrenta, que são em grande parte compartilhados pelo resto da humanidade. Por exemplo, na China, com 1,4 bilhões de habitantes, a pandemia de Covid-19 causou a morte de 5.300 pessoas, enquanto nos EUA, com 330 milhões de habitantes, já causou a morte de mais de um milhão, ou no caso da UE, onde com 450 milhões de habitantes, também foram registradas mais de um milhão de mortes. Mas também com relação à seca e às ondas de calor, para as quais estão pesquisando e testando diferentes medidas, incluindo o cultivo de arroz em água salgada. Eles também estão levando muito a sério a luta contra o aquecimento global e o planejamento para o uso de combustíveis de carbono. Em condições normais, a China não levará muito tempo para ultrapassar os EUA como potência econômica e tecnológica, e isso é algo que o imperialismo não pode de forma alguma permitir-se. Se eles tiverem que travar uma guerra para fazê-lo, eles o farão. E se nessa guerra eles tiverem que usar algum tipo de armamento nuclear para garantir a vitória, ele será usado. O imperialismo capitalista já utilizou esta mesma metodologia em etapas históricas anteriores, como demonstram claramente as duas guerras mundiais do século passado.

Alguns fatos sobre a situação econômica do imperialismo americano. O PIB dos EUA representa cerca de 20% do PIB mundial, mas seus gastos militares constituem mais de 40% dos gastos militares globais. O Presidente Biden apresentou um orçamento militar para o ano fiscal de 2023 de 773 bilhões de dólares, uma quantia que provavelmente será aumentada no processo de debate antes de sua aprovação. Biden prometeu US$ 1,5 bilhão por mês à Ucrânia para financiar a guerra, e uma quantia semelhante deve ser fornecida pela UE. A inflação vem crescendo ininterruptamente há mais de 17 meses, e não há nenhuma expectativa séria e rigorosamente fundamentada de que esta tendência mude de forma clara. O nível de endividamento dos países ocidentais é absolutamente brutal, começando pelos próprios EUA, que atualmente têm uma dívida pública de 31,2 trilhões de dólares, muito próxima dos 32 trilhões de dólares que a legislação dos EUA considera como o teto para este ano fiscal em termos de endividamento público. Este valor representa 133,92% da dívida para o PIB, e uma dívida per capita de 74.286 dólares. Há dezenas de outros números que poderiam ser acrescentados, mas acreditamos que estes são elementos suficientes para a reflexão.

Promover Zelensky como líder mundial do fascismo e da reação, como fizeram não há muito tempo com Juan Guaidó, é uma nova manobra condenada ao fracasso. Mas enquanto isso, a guerra liderada e financiada por seus promotores está causando dezenas de milhares de mortes e grande sofrimento para as classes trabalhadoras da Europa como um todo. É claro que as contas que eles tinham elaborado não funcionam, nem funcionarão. Mas muito provavelmente optarão por continuar financiando a guerra em vez de procurar alternativas para sua solução, pois é a única maneira que eles acreditam poder sair de sua crise estrutural. Sem dúvida, o sofrimento aumentará significativamente, mas também a consciência e o grau de organização, ou seja, a resistência popular.

Diante da guerra, existem apenas duas opções: ou pará-la ou transformá-la em revolução.

Izquierda Castellana, 14 de octubre de 2022

https://www.bricspsuv.com/2022/10/14/de-guaido-a-zelensky-o-de-como-el-imperialismo-no-aprende-ni-de-las-derrotas/

Tradução: Carmen Diniz/ Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba 

                                      


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