Marcia Choueri*
A temporada ciclônica no Caribe vai de 1º
de junho a 30 de novembro, e a deste ano está bem animada, infelizmente. Os
meteorologistas fizeram uma previsão de que em 2022 teremos 17 eventos que
chegarão a receber nomes, ou seja, serão tormentas tropicais ou furacões. 17
poderia parecer pouco, mas não é, porque, quando esses fenômenos atingem terra,
causam muita destruição.
Na madrugada de 27 de setembro, o
fenômeno Ian entrou pelo extremo oeste de Cuba como furacão de categoria 3, e
dali sairia algumas horas depois, já com categoria 4, classificado em uma
escala que vai de 1 a 5.
As províncias mais atingidas foram as de
Pinar del Río e Artemisa, e mais a Ilha da Juventude, mas os ventos e chuvas
também causaram grandes prejuízos no resto da região ocidental, que inclui
também as províncias de Havana, Mayabeque e Matanzas.
A mudança de categoria do furacão se dá
porque, dependendo das condições que encontra, o meteoro pode se intensificar
ou debilitar. No caso, o Ian se intensificou bastante, porque, após sair de
Cuba, entrou no território dos Estados Unidos já com categoria 5.
Na Ilha, os prejuízos foram enormes.
Cerca de 90 mil casas ficaram danificadas, e mais de 8 mil foram totalmente
destruídas. Isso representa 8 mil famílias mais sem vivenda, em um país que já
sofre um débito habitacional considerável.
Como ocorre sempre aqui, a prioridade das
ações governamentais foi de proteger a vida. O trabalho da Defesa Civil nesses
casos é muito bem organizado. Foram aplicadas as medidas preventivas de
transferir, a casas de familiares ou a abrigos, as pessoas que vivem em
habitações em risco. Graças a isso, houve apenas 3 casos de falecimento pela
passagem do furacão.
A Ilha ficou várias horas totalmente sem
luz, porque os ventos danificaram as linhas de transmissão de eletricidade, com
a caída de árvores e postes. Já no dia 5 de outubro, o jornal Granma informava
que em seis dias se restabelecera o serviço elétrico em Havana. Neste momento,
a província de Artemisa já tem mais de 95% de recuperação do serviço, mas em
Pinar só foi possível chegar a pouco mais de 50%, após quase um mês.
Os ventos fortes destruíram muitas
plantações e, no caso de Pinar, também derrubaram casas de tabaco, onde se
secam as folhas do que é um dos principais produtos de exportação cubanos, os
charutos. O prejuízo é enorme e repercutirá sobre a economia da Ilha por um
tempo longo.
Os trabalhos de recuperação continuam
incessantemente, com grande esforço e transferência de recursos de outras
áreas, mas é preciso dizer que poderiam ser muito mais rápidos, se Cuba não
estivesse bloqueada.
Os Estados Unidos ofereceram, através do
Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, uma
contribuição material avaliada em dois milhões de dólares para recuperação dos
danos do furacão Ian, que o ministro das Relações Exteriores cubano, Bruno
Rodríguez Parrilla, agradeceu publicamente.
Mas, como também declarou em uma coletiva
de imprensa concedida no dia 19 de outubro, o bloqueio é o furacão constante, é
a pandemia permanente. Nessa coletiva, o ministro deu alguns números que
constam do informe dos prejuízos causados pelo bloqueio, informe esse que será
apresentado ante a Assembleia Geral das Nações Unidas no próximo mês de
novembro, quando se colocará novamente em votação a resolução “Necessidade de
pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados
Unidos da América contra Cuba”.
O documento mostra que, em apenas sete
meses de 2021 – de janeiro a julho –, o bloqueio provocou os seguintes
prejuízos, em dólares, por setor: Saúde – US$113.498.300; Alimentação e
Agricultura – US$369.589.550; Educação – US$30.032.550; Esporte – US$2.827.515;
Cultura – US$19.155.000; Comunicações e Informática – US$37.520.578; Indústria
– US$31.278.520; Energia e Minas – US$136.063.043; Construção – US$22.793.000.
De modo que pode ser muito simpático e
demagógico mandar um dinheirinho de ajuda, mas seria bem mais efetivo, justo e,
inclusive, juridicamente correto, que o governo Biden tomasse as medidas a seu
alcance para reduzir o infame bloqueio que os Estados Unidos praticam contra
Cuba há mais de 60 anos, e que foi aprofundado e exacerbado durante o governo
Trump.
O furacão Ian passou e, em um dia,
derrubou casas, plantas e postes, mas o bloqueio provoca escassez e sofrimento
ao povo cubano todos os dias, sem descanso.
Como todo e qualquer país, Cuba merece
que seja respeitado o seu direito a viver em paz, com o sistema escolhido,
aprovado e apoiado por seu povo, sem ingerências, nem intervenções.
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