25 de out. de 2022

O PIOR CICLONE É O BLOQUEIO #MejorSinBloqueo

                                 

Marcia Choueri*

       A temporada ciclônica no Caribe vai de 1º de junho a 30 de novembro, e a deste ano está bem animada, infelizmente. Os meteorologistas fizeram uma previsão de que em 2022 teremos 17 eventos que chegarão a receber nomes, ou seja, serão tormentas tropicais ou furacões. 17 poderia parecer pouco, mas não é, porque, quando esses fenômenos atingem terra, causam muita destruição.

       Na madrugada de 27 de setembro, o fenômeno Ian entrou pelo extremo oeste de Cuba como furacão de categoria 3, e dali sairia algumas horas depois, já com categoria 4, classificado em uma escala que vai de 1 a 5.

       As províncias mais atingidas foram as de Pinar del Río e Artemisa, e mais a Ilha da Juventude, mas os ventos e chuvas também causaram grandes prejuízos no resto da região ocidental, que inclui também as províncias de Havana, Mayabeque e Matanzas.

       A mudança de categoria do furacão se dá porque, dependendo das condições que encontra, o meteoro pode se intensificar ou debilitar. No caso, o Ian se intensificou bastante, porque, após sair de Cuba, entrou no território dos Estados Unidos já com categoria 5.

       Na Ilha, os prejuízos foram enormes. Cerca de 90 mil casas ficaram danificadas, e mais de 8 mil foram totalmente destruídas. Isso representa 8 mil famílias mais sem vivenda, em um país que já sofre um débito habitacional considerável.

       Como ocorre sempre aqui, a prioridade das ações governamentais foi de proteger a vida. O trabalho da Defesa Civil nesses casos é muito bem organizado. Foram aplicadas as medidas preventivas de transferir, a casas de familiares ou a abrigos, as pessoas que vivem em habitações em risco. Graças a isso, houve apenas 3 casos de falecimento pela passagem do furacão.

       A Ilha ficou várias horas totalmente sem luz, porque os ventos danificaram as linhas de transmissão de eletricidade, com a caída de árvores e postes. Já no dia 5 de outubro, o jornal Granma informava que em seis dias se restabelecera o serviço elétrico em Havana. Neste momento, a província de Artemisa já tem mais de 95% de recuperação do serviço, mas em Pinar só foi possível chegar a pouco mais de 50%, após quase um mês.

       Os ventos fortes destruíram muitas plantações e, no caso de Pinar, também derrubaram casas de tabaco, onde se secam as folhas do que é um dos principais produtos de exportação cubanos, os charutos. O prejuízo é enorme e repercutirá sobre a economia da Ilha por um tempo longo.

       Os trabalhos de recuperação continuam incessantemente, com grande esforço e transferência de recursos de outras áreas, mas é preciso dizer que poderiam ser muito mais rápidos, se Cuba não estivesse bloqueada.

       Os Estados Unidos ofereceram, através do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, uma contribuição material avaliada em dois milhões de dólares para recuperação dos danos do furacão Ian, que o ministro das Relações Exteriores cubano, Bruno Rodríguez Parrilla, agradeceu publicamente.

       Mas, como também declarou em uma coletiva de imprensa concedida no dia 19 de outubro, o bloqueio é o furacão constante, é a pandemia permanente. Nessa coletiva, o ministro deu alguns números que constam do informe dos prejuízos causados pelo bloqueio, informe esse que será apresentado ante a Assembleia Geral das Nações Unidas no próximo mês de novembro, quando se colocará novamente em votação a resolução “Necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba”.

       O documento mostra que, em apenas sete meses de 2021 – de janeiro a julho –, o bloqueio provocou os seguintes prejuízos, em dólares, por setor: Saúde – US$113.498.300; Alimentação e Agricultura – US$369.589.550; Educação – US$30.032.550; Esporte – US$2.827.515; Cultura – US$19.155.000; Comunicações e Informática – US$37.520.578; Indústria – US$31.278.520; Energia e Minas – US$136.063.043; Construção – US$22.793.000.

       De modo que pode ser muito simpático e demagógico mandar um dinheirinho de ajuda, mas seria bem mais efetivo, justo e, inclusive, juridicamente correto, que o governo Biden tomasse as medidas a seu alcance para reduzir o infame bloqueio que os Estados Unidos praticam contra Cuba há mais de 60 anos, e que foi aprofundado e exacerbado durante o governo Trump.

       O furacão Ian passou e, em um dia, derrubou casas, plantas e postes, mas o bloqueio provoca escassez e sofrimento ao povo cubano todos os dias, sem descanso.

       Como todo e qualquer país, Cuba merece que seja respeitado o seu direito a viver em paz, com o sistema escolhido, aprovado e apoiado por seu povo, sem ingerências, nem intervenções.

                                  

*Integrante do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba


                              
     

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