Marcia Choueri* (Informações extraídas de: www.cubaenresumen.org)
Cuba acaba de tomar uma decisão que pode dar margem a muita especulação mal-intencionada.
A Ministra Presidenta do Banco
Central de Cuba, Marta Sabina Wilson González, anunciou numa entrevista
coletiva que estão temporariamente suspensos os depósitos em efetivo de dólares
estadunidenses. A medida entrará em vigor no dia 21 de junho. Até lá, quem
tiver dólares em espécie poderá depositá-los em uma conta em MLC – moeda
livremente convertível.
Atenção: não está proibido ter
dólares! Se a pessoa quiser guardá-los, pode. Se preferir colocá-los na conta,
para poder fazer compras, pode também, mas só até o dia 20.
Para compreender a necessidade dessa
medida, é preciso ter conhecimento de alguns fatos.
O primeiro é que o governo
norte-americano, durante a gestão Trump, acirrou o bloqueio contra Cuba com
mais de 240 medidas, muitas delas dirigidas a asfixiar financeiramente a
economia da Ilha. Várias têm como objetivo impedir as empresas cubanas – tanto
estatais como privadas – de fazer compras no exterior.
Essas medidas foram incrementadas
durante a pandemia, e o novo governo, que assumiu em janeiro, não suspendeu
nenhuma delas.
O outro fato é que, tratando de
saltar os obstáculos, o governo cubano tomou duas medidas, meses atrás. Dedicar
parte de sua rede comercial interna a transações exclusivamente em moedas
estrangeiras (“tiendas em MLC”) e permitir a abertura de contas bancárias em
moedas estrangeiras.
As duas medidas, combinadas, visam
recolher divisa em efetivo, para fazer frente a compras no exterior. Funciona
assim: as compras nos mercados em MLC só podem ser feitas com cartão. Pode ser
cartão de uma dessas contas em MLC, ou cartões de crédito internacionais –
sempre que o banco que o emite não seja norte-americano. Com isso, o Banco
Central cubano pode dispor de dinheiro para depositar em bancos internacionais.
Esses depósitos dão lastro às transações financeiras para adquirir, por exemplo,
leite em pó, insumos da indústria farmacêutica, peças e equipamentos
hospitalares e, o mais importante, combustível para mover a economia. Essas
duas medidas deram um respiro.
Os ianques então pressionaram ainda
mais. Aí é que entra aquela estranha inclusão de Cuba na lista de países que
não combatem o terrorismo. Os países incluídos na tal lista são proibidos de
utilizar dólares estadunidenses. E, para piorar, impuseram multas pesadas a
bancos que se atreveram a aceitar depósitos cubanos em dólares estadunidenses.
De 2005, até hoje, 35 bancos suspenderam as operações com Cuba, 12 deles
multados; 24 dos 35, suspenderam durante a administração Trump. É fácil
imaginar o alcance dessas maldades, quando nos lembramos que a imensa maioria
das transações internacionais são feitas na moeda deles.
Essa minha explicação foi para
ajudar a entender a frase da ministra: “o banco [Central de Cuba] tem dólares
que não pode depositar no exterior. Esse dinheiro só adquire valor de uso,
quando está depositado em contas no estrangeiro”. Ou seja, esses dólares, em
mãos de Cuba, são só papel verde. A Ilha precisa de depósitos em outras moedas
de circulação internacional, como euros e libras esterlinas.
A proibição – temporária – de
depositar dólares nas contas em MLC visa estimular o depósito em outras moedas.
Por quê? O governo Trump impôs tantas restrições, que a Western Union (que
aliás é britânica, mas dá no mesmo), por exemplo, que fazia as operações de
remessa de dinheiro entre Cuba e outros países, fechou suas agências aqui.
Transferências por bancos de outros países são raras e caras. Os produtos
cubanos – como o rum e os charutos - não podem ser comercializados nos Estados
Unidos, que são o maior mercado e estão pertinho. (Para quem pensou que aquela
decisão do nosso (argh!) presidente, de proibir charutos cubanos no Brasil, era
uma bobagem inócua – não é! É mais uma restrição econômica à Ilha.)
Então, a principal maneira de Cuba
adquirir moedas estrangeiras é pelo que chega em mãos de quem vem pra cá. E a
maioria – principalmente agora que o turismo está quase em zero –, vem dos
Estados Unidos. O que a medida está dizendo é: seja bem-vindo, mas traga outras
moedas. O dólar estadunidense não será aceito, temporariamente.
Para terminar: há quem diga que o
bloqueio atinge somente o governo, e não o povo cubano. Balela! Mentira
deslavada! Os residentes em Cuba sentimos o bloqueio todos os dias, em todas as
nossas atividades cotidianas. O objetivo sempre foi tornar a vida tão difícil,
a ponto de provocar uma revolta social. O resto é conversa mole. A medida
tomada pelo Banco Central de Cuba é legítima, de um país soberano, e
necessária, para proteger a economia do país – que é a economia e bem-estar do
povo.
*Marcia Choueri é integrante do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba - residente em Havana.
FIM DO PROCESSO DE APRISIONAMENTO ECONÔMICO A NOSSA IRMÃ CUBA!!!
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