Por Marcia Choueri*
Poucos dias antes de ser votado na ONU o
projeto de Resolução contra o bloqueio estadunidense a Cuba, podemos agradecer
aos Estados Unidos e à extrema direita europeia uma verdadeira aula de métodos
da guerra não convencional, aquela que não faz barulho, que passa
imperceptível. Veja, que didático!
A tática dessa guerra é convencer você de
que a realidade perceptível não existe, de que o que você vê, toca, sabe não é
o que parece. Ou que existe uma outra realidade, mais “real”, em total
contradição com o que você sabe por experiência ou observação. É assim que
conseguem convencer de que as escolas brasileiras distribuíam kits gays, ou que
os governos de outros países são ditaduras, ou que Cuba viola os direitos
humanos.
Olha o script. Meses atrás, surgiu o
autodenominado “Movimento San Isidro”. Não reúne gente suficiente nem tem
propostas próprias, para ser chamado de movimento, mas não importa. A mídia
“independente” de Miami, acompanhada pelos grandes meios internacionais, bate o
bumbo, e logo todos ouvem falar deles. Montam factoides (um político do Rio nos
ensinou: factoide é fato inventado, informação falsa, mentira mesmo), criam
situações artificiais, para filmar com um celular e postar nas redes.
O tempo passa. Quando faltam poucos dias
para a votação na ONU da resolução contra o bloqueio, começam as ações
orquestradas contra a Ilha:
1.
O governo Biden coloca Cuba na lista de países que não combatem o terrorismo. A
lista é deles, eles põem quem eles querem, não precisam apresentar provas ou
argumentos. E a grande imprensa repercute, não para mostrar a arbitrariedade de
quem faz a lista, mas como uma “verdade”. Que Cuba nunca tenha financiado um
ato terrorista é irrelevante. E que tenha sofrido numerosas ações desse tipo,
financiadas justamente por quem faz a lista, também não interessa. O que eles
não nos contam: estar na lista impede que o país possa realizar determinadas
operações financeiras, a lista é uma arma econômica.
2.
Organizações acadêmicas e eurodeputados acusam Cuba de violar os direitos
humanos de “artistas e jornalistas”, aqueles de San Isidro, alguns dos
quais, aliás, depois do show inicial, já declararam publicamente que o tal
movimento – como acontece também com vários meios “independentes” – é
financiado por organizações vinculadas ao Departamento de Estado
norte-americano. Mas as denúncias contra Cuba não levam em conta esses
“detalhes”.
O que não está expresso, o que eles querem
que passe sem que o leitor/cidadão reflita, que seja como uma inferência, é que
o bloqueio seria uma sanção a essa “má conduta” do governo cubano, de
desrespeito aos direitos humanos.
A única maneira que conhecemos para
combater esses métodos é divulgando a realidade dos fatos e pedindo às pessoas
que pensem.
O primeiro e inquestionável direito humano
é o direito a uma vida digna. É fácil compreender que nele se incluem a
alimentação, a moradia, a educação, a saúde, o trabalho, a proteção aos
vulneráveis. Qualquer sociedade humana que se preze deve ter como objetivo
assegurar esse direito a todos os seus membros. Vejamos, então, algumas
informações de como estão esses direitos em Cuba.
Bloqueio: por não poder comprar no mercado
estadunidense, que é o mais próximo, Cuba paga de 350 a 600 dólares a mais a tonelada
de frango. Ou seja, é menos frango que chega à mesa do cidadão cubano. Por
falta de combustível (bloqueado em alto-mar) para entregar seus produtos, uma
empresa cubana de alimentos teve de parar a produção durante 77 dias. Também
devido à falta de combustível, entre os meses de novembro e dezembro de 2019,
deixou-se de semear 12.399 hectares de arroz, e assim não se produziram 30.130
toneladas de arroz de consumo. Pela mesma razão, deixou-se de produzir mais de
195 mil toneladas de legumes e não se extraíram mais de 2 milhões de litros de
leite e 481 toneladas de carne. Estes dados são do Informe de Cuba sobre os
prejuízos provocados pelo bloqueio entre abril/2019 e março/2020.
-
Direito à alimentação: como é público, os cidadãos cubanos têm de fazer
demoradas filas para comprar alimentos. E enfrentam também a falta de vários
produtos.
Bloqueio: 5 minutos de bloqueio equivalem a todo o material
necessário para construir uma casa de dois quartos.
- Direito à moradia: há muitos anos, a
construção de moradias em Cuba não consegue acompanhar o crescimento – embora
pequeno – da população. Não há pessoas vivendo na rua, como na maioria dos
países (inclusive do chamado primeiro mundo), mas há residências com várias
gerações coabitando, e até casais que se separam e têm de continuar vivendo na
mesma casa.
Bloqueio: 3 dias de bloqueio equivalem a todo o material
escolar necessário ao país.
- Direito à educação: todas as crianças
cubanas têm garantida sua vaga numa escola de período integral. E todas as escolas
– não importa se num bairro residencial de Havana, ou numa zona rural – têm
professores formados nas mesmas faculdades, recebendo salário igual e que
utilizam o mesmo material didático. O objetivo é assegurar que todos os
estudantes recebam educação de igual (e boa) qualidade. Mas é verdade que há
escolas com salas fechadas porque necessitam reparos. E que podem faltar alguns
livros (que então serão utilizados de forma compartilhada), os cadernos talvez
demorem um pouco, e a merenda já não é tão substanciosa quanto em outros
tempos.
Bloqueio: 5 horas de bloqueio equivalem a todas as máquinas
de diálise necessárias em Cuba. 6 horas de bloqueio equivalem a toda a insulina
necessária anualmente para os 32 mil pacientes do país.
- Direito à saúde: Cuba tem um sistema de
saúde pública universal e acessível, que cobre desde a atenção primária,
oferecida pelos consultórios de saúde da família, passando pelos policlínicos
com consultas de especialistas e chegando até os hospitais gerais e os
institutos especializados. Graças a esse sistema, Cuba tem os melhores índices
da região, de recuperação frente à covid. Mas é verdade que algumas instalações
necessitam reparos, e que há falta de medicamentos importantes nas farmácias.
Bloqueio: 2 horas de bloqueio equivalem a todas as máquinas
de Braile que os cegos de Cuba necessitam.
- Direito à proteção: em Cuba, todas as
pessoas que sofrem algum tipo de deficiência recebem atendimento especializado
e produtos para sua atenção, como alimentos especiais, medicamentos, sapatos
ortopédicos, fraldas etc. Mas também é verdade que às vezes os produtos
escasseiam, é preciso esperar que cheguem, e até lá ir resolvendo como se pode.
O
objetivo aqui não é – nem poderia ser – esgotar o assunto. Apenas oferecer
alguns dados objetivos, divulgar informação fidedigna e ajudar a pensar.
A disputa
de narrativas está presente o tempo todo. “Artistas” e “jornalistas”, como os
de San Isidro, Bruguera, Yoani, Cubanet,
Cibercuba etc. são mercenários a soldo de um país estrangeiro e que,
ainda por cima, está em guerra com Cuba. Insistem em vender-nos gato por lebre.
Como bem dizia a canção, é preciso estar atento e forte.
#CubaSalva
#BloqueioMata
Panfleto do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba
*Integrante do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba em Havana.
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