Por Marcia Choueri*
Nas últimas semanas, várias organizações
mostraram-se preocupadas com os direitos humanos em Cuba. Quando eu soube, até
achei bom. Afinal, que país está isento de violações dos direitos humanos? Se
muitos se preocuparem com isso, teremos um avanço civilizatório.
Pensei: devem ser assassinatos de jovens
negros pela polícia. Ah, não! Isso é no Brasil e nos Estados Unidos. Violência
policial contra manifestantes, só pode. Não, isso é Colômbia, Chile. Expulsão
de famílias de suas casas e plantações? No Brasil e na Palestina – neste último
caso, pelo governo de Israel. Campeão de feminicídios? Brasil. População
carcerária em situação gravíssima de contágios pela Covid? Brasil também, entre
outros.
Não queria ser injusta, então, fui
pesquisar: quem são os preocupados e do que estão falando?
A LASA – Associação de Estudos
Latino-americanos, sediada nos Estados Unidos, disse que muitos de seus membros
estão preocupados com o tratamento que acadêmicos, intelectuais e artistas
recebem em Cuba. A LASA – segundo ela mesma – reúne indivíduos e instituições
dedicados ao estudo da América Latina, é a maior associação profissional do
mundo, e mais de 60% dos seus associados residem fora dos Estados Unidos. Para
poder avaliar as motivações desses tais membros preocupados, seria necessário,
pelo menos, saber quem são, uma associação tão grande deve ter de tudo. Mas
isso, eles não esclareceram.
Outras: o Centro David Rockfeller de Estudos Latino-americanos, o Centro Hutchins de Pesquisas Africanas e Afro-americanas e o Instituto de Pesquisas Afro-latino-americanas da Universidade de Harvard emitiram uma declaração conjunta sobre os direitos humanos em Cuba, expressando sua “enérgica condenação à recente repressão do governo cubano contra artistas e ativistas que buscam a liberdade artística e de expressão”, mencionando, inclusive, Tania Bruguera. Para quem não sabe, a mencionada é uma youtuber raivosa, nascida na Ilha e residente nos Estados Unidos, que grita impropérios pelas redes sociais e é publicamente financiada por organizações ligadas ao Departamento de Estado norte-americano. Com esse dinheiro, ela age como intermediária, para financiar ações violentas em Cuba.
Ainda assim, não queria fazer uma análise
superficial e motivada apenas por minhas posições políticas. Então, refleti:
eles falam de repressão recente. Será que o governo cubano acaba de fazer uma
caça a artistas e jornalistas “independentes”? Estarão presos por denunciar
crimes do Estado, como o Assange, condenado a uma pena cruel, por desmascarar o
governo norte-americano? Ou, talvez, sequestrados e desaparecidos, como na
Colômbia? Ou tiveram de autoexilar-se, para proteger a própria vida, como
alguns do Brasil? E de tantos outros lugares...
Não era nada disso. Eles se referem a fatos
de vários meses atrás e que foram amplamente divulgados, dentro e fora de Cuba.
Aliás, justamente por divulgá-los e mostrar pela televisão provas de que os
tais supostos artistas e jornalistas, como a própria Bruguera, são mercenários
financiados pela CIA, um apresentador cubano, Humberto López, tem sofrido um
verdadeiro linchamento virtual movido por esses “profissionais”.
Então, por que agora? Por que essas
organizações norte-americanas – que recebem dinheiro para estudar a América
Latina e a África – resolveram se manifestar em uníssono, neste momento, contra
Cuba?
Esta é fácil de responder. No dia 23 de
junho, a Assembleia Geral das Nações Unidas vai votar um projeto de Resolução
chamado “Necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro
imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba”, pela 29ª vez consecutiva
(sim, você entendeu, são 29 anos seguidos). Aliás, essa votação é a de 2020,
ela deveria ter acontecido no final do ano passado, mas foi adiada por causa da
pandemia. E se chama Resolução, mas na verdade não resolve nada, porque decisão
das Nações Unidas é como conselho de mãe, ninguém escuta, nem obedece.
Todos os anos, quase 100% dos países
aprovam essa resolução. Quem sempre fica contra? Os próprios Estados Unidos
(tem lógica, vai contra a política deles, seja democrata ou republicana),
Israel (o mesmo que dizer Estados Unidos) e, na última votação, adivinha quem
mais ficou contra?! O Brasil! Isso mesmo, contrariando a própria Constituição e
a nossa tradição de política externa, o atual (des)governo brasileiro nos fez
passar mais essa vergonha internacional. Como se nos faltassem motivos para
gritar Fora!
Bem, se você buscar no google, vai
encontrar que “Assembleia Geral das Nações Unidas é um dos seis principais
órgãos da Organização das Nações Unidas e o único em que todos os países
membros têm representação igualitária”. Se a grande maioria dessa Assembleia
Geral aprova, e é uma resolução, deveria ser aplicada, certo? Não! Os Estados
Unidos ignoram solenemente há 28 anos essa decisão da Assembleia Geral da ONU.
Agora será a 29ª.
Então, preciso corrigir o título do artigo.
A pergunta não é pra quem, é por quê. Por que falar de direitos humanos agora?
Para tentar justificar – mal e porcamente,
como se diz em “paulistês” – o agressivo, belicoso, genocida bloqueio
econômico, comercial e financeiro contra Cuba, que tenta submeter o povo da
Ilha à fome e escassez de produtos básicos, como remédios e equipamentos
hospitalares. O bloqueio não é contra o governo, o bloqueio é contra o povo
cubano. O bloqueio é a maior agressão aos direitos humanos em Cuba.
Como disse tão lindamente a música de
Israel Rojas “La fuerza de un país” (veja o vídeo abaixo) : https://www.youtube.com/watch?v=tBZ4znOMgFk&ab_channel=BuenaFe
), o bloqueio é a expressão contemporânea do duelo entre Davi – uma pequena
ilha com poucos recursos naturais, mas valente e solidária – e Golias – o
império ególatra do século XX, que se recusa a evoluir e mudar de métodos.
Preocupados com os Direitos Humanos em Cuba? Lutem contra o bloqueio!
#CubaSalva
#BloqueioMata
*Integrante do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba
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